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Clássicos na Magnólia

Uma viagem sobre rodas pela elegância e nostalgia das viaturas clássicas de colecionadores madeirenses.
Visit Madeira
Madeira. Tão Tua
Data:
ago 06, 2024
Tempo de leitura:
-min
Sábado, 27 de julho de 2024

Eram 16:30 e estávamos pontualmente no portão da entrada principal da Quinta Magnólia. A tarde era de verão, quente e húmida, bem ao jeito tropical da Madeira. Ao mesmo tempo que nos preparávamos para entrar no recinto, subia a Rua Dr. Pita o primeiro clássico que veríamos naquela tarde. O autocarro Mercedes-Benz L406 D, viatura ao serviço do Turismo da Madeira naquele fim de semana, transportava gratuitamente tantos quanto permitia a sua lotação, e trazia aos Jardins da Quinta Magnólia vários turistas, visivelmente encantados, recolhidos nas paragens previamente anunciadas.


Clássicos na Magnólia



Ao passar o portão, conseguíamos já ouvir o som de palmas ao ritmo da música "Blue Suede Shoes", na voz de Elvis Presley. Apressámos o passo para não perder o que estava a acontecer – o que quer que fosse, parecia bem animado – até chegarmos ao início da área ajardinada, onde estava a decorrer uma performance imperdível. As boas-vindas ao Clássicos na Magnólia foram, de facto, em grande estilo. Mais de uma dezena de bailarinos incorporavam não só os movimentos do rock and roll dos anos 50, como também a icónica forma de vestir: casacos letterman, vestidos às bolinhas, lenços na cabeça, batom vermelho e outros pormenores da elegância irreverente do pós-guerra…. Tinha-nos sido oferecido um cartão de embarque para uma viagem no tempo e nós íamos aproveitá-la bem.

Clássicos na Magnólia



Terminada a performance, a multidão dispersou-se e, no nosso campo visual, surgia a imagem que tínhamos idealizado. Várias dezenas de carros pousavam elegantemente sobre a relva verde. Como esperávamos, não eram automóveis quaisquer. Eram verdadeiras relíquias dos anos 50, impecavelmente conservadas, com um brilho que rivalizava com qualquer automóvel novo, acabado de sair da fábrica.


Homenageando os anos da produção automóvel entre 1950 e 1955, a quinta edição do Clássicos na Magnólia reunia, em exposição, 33 automóveis e 12 motociclos, a grande maioria de proprietários madeirenses. O evento que se realiza anualmente, tem como objetivo homenagear os entusiastas que se dedicam à preservação destes veículos, ao mesmo tempo que constitui, também, um evento de entretenimento turístico, que devido à sua dimensão, integra já o calendário oficial de animação turística.

Clássicos na Magnólia


A nossa primeira paragem foi logo à entrada da exposição, diante do veículo convidado desta edição: um Mercedes-Benz 300D Adenauer Limousine, da coleção da Região Autónoma da Madeira. A história deste carro era tão notável quanto a sua aparência. Fabricado em 1952, na Alemanha, teve a sua primeira matrícula em dezembro desse ano. Um ano depois, foi comprado por George Welsh, sendo adquirido em 1971 pelo Estado Português para o Governo Civil do Distrito Autónomo do Funchal. Após o 25 de abril de 1974, tornou-se o automóvel oficial do Ministro da República, passando posteriormente para a Presidência do Governo Regional. Um verdadeiro tesouro histórico!

Clássicos na Magnólia


Continuámos a nossa visita, já completamente mergulhados no ambiente revivalista dos anos 50. Alguns dos mais conhecidos hinos desta década continuavam a ecoar pelo jardim, mas o festim automobilístico tinha apenas começado… Austin, Jaguar, Land Rover, VW, Rolls-Royce, Mercury, Mercedes e MG eram apenas algumas das marcas que a nossa vista conseguia, àquela distância, distinguir sem qualquer confusão. Ao aproximarmo-nos de cada uma das viaturas, podíamos ver as suas carroçarias brilhantes, refletindo nelas todo o cuidado e dedicação dos seus proprietários. Através das janelas abertas, cortesia de alguns proprietários mais descontraídos, conseguíamos observar e sentir cada detalhe do interior das viaturas, desde os acabamentos em madeira dos tabliers, ao cheiro inconfundível do material em pele dos estofos.

Clássicos na Magnólia


Foi num destes momentos de curiosidade que, ao nos aproximarmos, tímida, mas curiosamente, de um descapotável em exposição, acabámos sendo convidados para nos sentarmos ao seu volante. O veículo em questão era um MG TF 1500 de 1954, vermelho. A sua capota bege recolhida condizia com o seu interior nos mesmos tons. Sentarmo-nos no lugar do condutor foi o ponto alto daquela tarde… o volante de estilo desportivo inglês, o radio antigo, os estofos em pele bege… mesmo sem ligar a ignição sentimo-nos a viajar a vários km/h pelas teias do tempo.

Clássicos na Magnólia


Num patamar inferior ao que nos encontrávamos, num relvado igualmente verde, conseguíamos ver um espaço dedicado aos veículos de duas rodas. Cerca de uma dúzia de motas coloridas, também fabricadas entre 1950 e 1955, reuniam à sua volta muitos curiosos, que tentavam imortalizar a sua visão com as câmaras fotográficas dos seus telemóveis.

Clássicos na Magnólia


Eram já quase 19h, mas o dia continuava quente. A emoção e o calor chamavam-nos para um refresco, mas, ao mesmo tempo, começava um concerto no coreto do jardim. Veículos à parte, a verdade é que a animação do Clássicos da Magnólia é quase um evento próprio. O espaço que durante a manhã tinha acolhido a “Tertúlia dos Clássicos”, em parceria com a rádio TSF e um espetáculo de artes circenses, recebia, agora, um concerto de artistas regionais, com um repertório bem adequado à ocasião, com músicas que variavam entre o rock e o jazz. A tão desejada coca-cola teria de esperar, pois estávamos decididos a não perder uma música que fosse.


Clássicos na Magnólia



Depois do concerto, seguiram-se mais umas voltas pelo jardim, com ocasionais paragens para conversar com os proprietários de alguns veículos que lá se encontravam. A nossa suspeita relativamente ao trabalho de manutenção que envolve ter um destes automóveis ficou confirmada. Poder apresentar uma viatura com 70 anos, naquele estado imaculado e funcional, é um trabalho que exige muito tempo, dedicação e habilidade. Descobrimos que em muitos dos casos são, inclusive, os proprietários que consertam os seus veículos, com conhecimento apreendido ao longo de décadas passadas de capô aberto e debaixo do motor. A paixão visível destes colecionadores sobre os seus automóveis é combustível suficiente para alimentar longas horas de conversas que transcendem a mecânica e fundem-se com as suas vidas e com as das suas famílias, recuando, por vezes, uma ou duas gerações. Sem darmos conta, era hora de irmos embora, mas as conversas deixadas a meio encontrariam forma de se retomar.

Clássicos na Magnólia


A Quinta Magnólia voltaria a abrir portas no dia seguinte, domingo, com centenas de visitantes desejosos de explorar a rica coleção de veículos clássicos da Região e desfrutar de um dia repleto de entretenimento. Por aqui, antecipamos já uma viagem ao futuro, para o Clássicos na Magnólia de 2025, que vai reunir as viaturas de colecionadores madeirenses da segunda metade da década de 50.
Cartaz Oficial
Clássicos na Magnólia

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